9 de novembro de 2003

COME A PAPA, PORTUGAL COME A PAPA...

Gosto da sensatez das mulheres. Os homens são mais frequentemente reservados do que produtores de frases e textos inquestionáveis. Coisas do género: "Se metes os dedos na ficha ficas com o cérebro esturricado". Ditos que são ao mesmo tempo uma tomada de consciência e uma coisa caseira e simples.
A maioria das crónicas da Helena Matos são assim.
Gostei de uma das últimas sobre as escolas privadas e o discurso hipócrita dos governantes e políticos sobre o assunto.Afirma ela que todos juram a pés juntos que a escola pública é um local fantástico para educar os meninos. Contudo... todos eles metem os rebentos em escolas privadas, pagas a peso de ouro. "Que não lhes daria jeito os horários" - a eles, profissionais liberais - mas que ao desgraçado que entra às 9h e sai às 6 h já serviria.
A crónica de ontem, intitulada "Geração Bledine" é igualmente acutilante, se não mais ainda. Vou-me limitar a transcrever alguns excertos:
"É só professores a falar, a falar. Nem uma fotocópia nos dão, nem nada", dizia uma estudante a propósito das propinas. Outras duas, "todinhas" vestidas de cor-de-rosa, óculos de sol a condizer e acessórios vários,peroravam sobre a impossibilidade de pagarem as propinas, cujas, mesmo no seu valor máximo, custam menos do que aquilo que estão disposta a dar para, ao longo de um ano, andarem muito "fashion" em tons cor-de rosa e noutras cores. Os exemplos são inúmeros e, pese o seu lado caricato, deviam levar-nos a questionar o que está por detrás deste "Não pagamos!". Que geração é esta que considera que não deve contribuir nem de forma simbólica para custear os seus estudos?
Esta é a geração "bledine". Aquela a quem tudo chegou devidamente triturado em menus cheios de vitaminas e sais minerais. A geração cuja educação foi organizada sob o terror do trauma.(...) O próprio acto de aprender se transfigurou à luz desta "traumomania": as crianças não aprendem porque ficaram traumatizadas com as más notas. Quantos aos professores, o seu dever não é ensinar mas sim transfigurar galhofeiramente os conteúdos de modo a que os alunos lhes apeteça estudar.(...)
O que ecoa naquele "Não pagamos!" não é um grito de liberdade, mas sim a birra de mimo dos tais omnipotentes infantis de que agora falam os especialistas. De alguém a quem ao nascer se prometeu a vida com um seguro contra as contrariedades..."

Falou e disse.

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